Texto
Diário dos 1.104 Kmts I,
“Com Mário de Andrade e A. B.
de Araújo Lima,rodamos 1.104
quilômetros . As notas seguintes registram essa viagem.”
“De Natal – Lages corre-se entre o mato seco – Procurando o Cabugy negaceante.
Depois do almoço pertenço aos tormentos do raciocínio. Epitácio Pessoa, o
antigo Gaspar Lopes, surge como um monte vermelho de casas sem gente. Um ar
assustado, opresso, sinistro. Um mormaço pesadão, teimoso e acre bafora
quenturas de coivaras. Chique-chiques. Correrias desabaladas do auto para
respirar-se. Para fugir-se ao encontro do gado que foi desenhado por Cícero
Dias. Nem um rumor de alegria. Um tom de lilás e de cinza. Os arruados passam.
Monotonia de cansaço e de tédio. Conversinhas morre-morrendo estimuladas pelas
emboladas do Bento à Chico Antônio, coqueiro fabuloso do Bom-Jardim. Caminhões.
Anuns. Vezes a nódoa do gavião. A estrada torta se direita e dispara em retas
saborosas pedindo os noventa quilômetros no velocímetro. Depois de juremas,
pedras e facheiros, os pereiros gritam um verde úmido. O juazeiro continua
pintado de inverno, desmentido o negro- cinzento do ambiente. É agora um
estirão sacudido, puxando nervos para um grito de vida.
Depois as filas de sal amontoado. Barracas dum acampamento. E, no fim do
aterro, Macau.(18-1-29
Texto escrito por Câmara Cascudo, e publicado na
primeira pagina do Jornal A Republica , edição do dia 29
de Janeiro de 1929
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