LOCAL ONDE FUNCIONAVA O CINEMA
O padre Antas lançou o
Cinema Paroquial, em
Pedro Avelino , nos anos de 1960 e permaneceu até meados da
década de 70, até a sua morte.
O Cinema tinha palco para
teatro, sala para máquinas cinematográficas na parte de cima e cadeiras que não
deixavam a desejar a nenhum prédio cinéfilo do Estado. O cinema era uma grande
novidade, um negócio fascinante que tinha chegado à cidade.
Para a meninada, assistir
um filme era uma alegria imensurável. Após a sessão, os meninos saíam do cinema
para casa contanto os melhores momentos do filme, do sofrimento do artista
principal, que no final era o vitorioso.
A propaganda dos filmes
era feita de uma maneira muito peculiar e interessante. Em armações de madeira
e compensado, as fotos de divulgação fornecidas pelas distribuidoras eram
coladas e, com tinta azul xadrez, eram escritos o nome do filme e dos artistas
principais, além de uma frase copiada dos folhetos de divulgação.
As armações ou tabuletas de
compensado eram colocadas em pontos estratégicos da cidade e tinham várias
informações sobre o filme, como horário, elenco, fotos e algumas frases de
efeito, como emocionante, não percam, sensacional, espetacular. Era a mídia e o
marketing da época.
Quando o filme era famoso
e caro, a propaganda se tornava mais agressiva: Dois garotos andavam por toda a
cidade, com a tabuleta nas mãos, e a meninada corria para ver o filme do
domingo à noite, após a missa. Era cinema cheio na certa.
Três chamadas alertavam
para o início do filme, não sei se do agudo para o grave, ou o contrário. No
início, havia apenas uma máquina para exibição dos filmes e quando ela quebrava
precisava ser consertada na mesma hora, caso contrário teria que devolver o
valor dos ingressos, pois o tempo de permanência do filme na cidade, através do
contrato, não permitia que a exibição fosse feita no dia seguinte. Seu Caldas
era perito em consertar rapidamente a máquina.
Ele desmontava, descobria
o defeito e consertava em menos de dez minutos. Quando surgia um defeito o
público não se incomodava, pois sabia que dentro de poucos minutos tudo estaria
normalizado. Muito tempo depois, o operador começou a trabalhar com duas
máquinas, um rolo em cada uma delas. Eu imagino que seu Caldas tinha apenas uma
preocupação concreta no cinema, era a preocupação da mudança de um rolo para
outro. Como projecionista ficava atento à sinalização de, no máximo, dez
segundos, sem o telespectador perceber. Francisco Caldas colaborou com essa
manifestação cultural, e que o Cinema Paroquial recebia filas de crianças,
jovens e adultos numa época telúrica. Naquela época o faroeste ou bang-bang era
o gênero preferido da meninada que ficava atenta a xerifes, pistoleiros,
bandidos, mocinhos, diligências, índios etc. Depois do filme, seu Caldas
direcionava o público para ficar atento ao seriado Flash Gordon no Planeta
Marte. Cada seriado terminava num momento de emoção e de incerteza para que o
público ficasse atento para o próximo episódio e, consequentemente, o filme também.
Para agradar ao público, o filme deveria ter muita ação. Os preferidos eram os
de cowboy, de piratas, de aventuras e de Tarzan. Os astros preferidos eram
Antony Quynn, Franco Nero. As artistas eram Alex Smith, Bárbara Stanwick e Ann
Sheridan. Toda sexta-feira santa era exibido o filme “Paixão e Morte de Nosso
Senhor Jesus Cristo”, com casa lotada. Por fim, o cinema se acabou, mas os
filmes continuam na. Infância feliz.
Fonte: Marcos Calaça, jornalista (UFRN)
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